segunda-feira, julho 24, 2006

O espelho

Ninguém falava seu nome certo e ele urrava de dor e prazer quando isso acontecia, num sentimento de superioridade velada, já que ele não era um Silva. Mas ninguém sabia, pois todos os gritos eram internos de forma que na superfície havia uma camada de gelo espessa, num solo que nunca sofria tremores.
Era uma constante simpatia de dar raiva de não sofrer. Nos olhos apenas um pêndulo entre dois extremos. Era um macho aristocrata.
Dava desconfiança de ver. Talvez tudo fosse fachada, uma bela casa em estilo germânico com paninhos embaixo dos vasos geometricamente arrumados, numa equação cujo resultado era um movimento uniforme.
Tudo isso é porque perfeição causa estranheza já que no mundo não há forma que não seja maculada. Depois de paridas, todas as coisas passam por uma espécie de batismo que as arranha, mancha ou tira pedaço.
Ele disse que era pra eu me sentir à vontade e realmente a casa era aconchegante. Os objetos variados haviam sido estacionados de forma harmônica, numa habilidade típica de quem planeja tudo.
Precisei me aliviar fui ao banheiro, mas errei e cheguei no quarto. Ele tinha um espelho no quarto. Ele tinha um espelho e não era qualquer espelho. Era enorme e estava estrategicamente posicionado defronte o leito de sacanagens.
Fiquei feliz porque ele tinha um espelho. Ele agora era meu amigo, de verdade. Ele também pensava naquilo e poderia até ser confidente. Ele gostava de amar e se ver no espelho. Amava e olhava o espelho, isso eu tinha certeza!
Não tive mais receios e sorri.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou seu fã!