sábado, setembro 23, 2006

Escuro

Eu prefiro esquecer que o Rio existe por enquanto. Os objetos mais amáveis devem ser encobertos com panos brancos porque qualquer visão de um passado recente pode machucar.
Os olhos dela me fazem chorar. É melhor então que eu esqueça que exista, mas como ela existe! Como me arrebata o corpo todo a cada mínima memória jorrada nas sinapses de meus neurônios já confusos. Sigo na contagem regressiva, mas está longe.
Coleciono novas lembranças, muitas tem lugar certo na gaveta do esquecimento. Admiro a capacidade humana incrível de enterrar as coisas ruins. Há que se lembrar das coisas boas, mas justamente agora preciso esquecê-las.
Uma foto familiar me traz um sorriso seguido de aperto, o amor tem maneiras estranhas de se manifestar.
Viver é arrumar novos motivos pra rir e pra chorar.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Orvalho

O que seria do ego se a paixão fosse mais forte que o desprendimento? Respirava fundo e aspirava todo o cheiro de quem era a bola da vez. Um novo amor era mata borrão.
Sentimentos antigos eram rapidamente substituídos pela mesma coisa só que com outra pessoa. Ela mergulhava.
A cada passeio na montanha russa tudo se tornava um pouco mais previsível, mas os beijos eram sempre rodamoinho. Se deixava tocar e abria cada poro.
A conversa era música e os momentos eram tão agradáveis que ela esquecia do resto. Era bom o suficiente para deslocar o eixo.
Ela desejava sem saber que ia passar.