sexta-feira, outubro 27, 2006

Vida

Cada momento um sentimento ocorre mais ou menos intenso. Ainda agora eu estava a sorrir e sentir a música. Dançava e cantava.
Num súbito o mundo escureceu e o sol mergulhou nas profundezas. Caí. Estou aqui agora num sentimento médio tentando lidar com as coisas.
A razão é salvadora do sofrimento. Só ela está lá precisa e matemática. Ela é constante, movimento uniforme que não pulsa. Apesar de tão sem graça ela faz coisas incríveis. Preciso recorrer mais à ela.
Sou um rio que corre direto sem pedir licença. Atropelo as pedras que insistem em mudar o rumo. As vezes empoço e odeio quando isso acontece.
Desembesto sem arreio e nem sempre é bom. Mas quando é, ninguém segura.
Sábio é o vira-lata, que desconfia até quando lhe oferecem comida. Sábia é a criança, eternamente buscando o doce.

Solidão

Sem poesias e palavras doces. Nada. Acabou. Ela não suportava mais abrir concessões e estava tomada por um amor próprio que doía de abrir mão. Ela olhava a cena e sentia um desgosto de ter sentido amor.
O sangue que rola ficou turvo e o peito fechou. Fechou de ódio e de uma auto piedade que a fez buscar o silêncio. As distrações que buscou findaram logo.
O barulho do ar condicionado era constante e o quarto estava sozinho. Sozinha era a lembrança de sempre, por mais que houvesse pessoas durante todo esse tempo. A ilusão da companhia havia acabado. Ela odiava com força mas isso não tornava as coisas mais fáceis.
O sentimento de perda doía mas ela havia feito escolha. Pensava em si mas a confusão espalhava na sua cabeça.
Doía uma dor suave. Não era nada demais, mas ver uma possível estrela fugir dessa forma, por escolha dela mesma, ou talvez por não entender como se faz um coração, doía.
Logo ela desejada desejava o objeto errado. Ela e a humanidade, que havia descoberto gostar do descaso. Tinha cansado de brincar de caça ao tesouro.

domingo, outubro 01, 2006

Lua nova

Ela estava começando a gostar de caminhar sozinha. Um filho agora seria corrente. Num surto de maternidade pensava nos olhinhos e na mãozinha prendendo em seus dedos. Pensava na Europa. Pensava nas noites de loucura e nas irresponsabilidades que ainda queria fazer. Pensava nas dobrinhas de carne nova, mas não conseguia odiar, só um pouquinho.
Já sabia que a distancia entre um beijo e uma vida era muito pequena. Já sabia, sempre soube, mas a correnteza era tão forte e tão adorável que pra se jogar não custava. Ia custar caro agora, talvez.
Pensava no tempo entre uma coisa e a outra, entre o status quo e o novo estado das coisas. Era um momento, sem alarme.