segunda-feira, julho 03, 2006

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Ela pegou uma carona na boléia de uma nave do tempo e estava tentando viver agora. Agora passava muito rápido, pensou ela. Agora agora agora agora agora, viu já passou. Agora era muito pouco tempo pra se fazer qualquer coisa. Ela precisava se agarrar a algo para não se perder no turbilhão de flores, frutos e animais que a rodeava. O mar era lindo, e as ondas duravam mais do que agora. A espuma branca brindava a vitória da onda sobre o tempo, elas sempre estariam ali.
A menos de um segundo para se tornar real, ela pensou que queria continuar dormindo, por pura falta de coragem. Era mais confortável viver no limbo dos sonhos e prazeres rápidos do que suportar as estranhas forças que movem a vida. Raiva e amor pulsavam no peito, tudo era tão intenso que seu corpo parecia um invólucro hermético prestes a explodir.
Desejava sentir todos os gostos que estavam tão fortes que dava uma aflição de ter pouca língua pra muito sabor.
Seu sentimento era maior que o mundo, um sentimento estranho que não havia fluído por nenhum canal conhecido. Parecia que raiva, amor, paixão, tédio, vida e morte tudo estava misturado fazendo com que ela não soubesse como sentir.
Esperou que passasse, e acabou passando, mas deixou em seu coração a memória de que em seu íntimo havia um poder terrível e amável de sede de engolir tudo.

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