domingo, maio 21, 2006

Brilhante

Era um café, desses cafés cools de Ipanema onde a classe média folheia livros que nem sempre compra enquanto saboreia deliciosos capuccinos e biscoitinhos amanteigados. Chega a mulher de vestido vermelho, que vai mudar para sempre a vida do garoto de boné.
Ela pegou um livro na prateleira de sociologia e sentou-se muito sensual com seu salto anabella e suas argolas douradas.
Era um texto difícil, ela havia marcado discretamente a página em que havia parado. Sempre escondia o tal livro na seção infantil e torcia para que os vendedores não fossem meticulosos ao arrumar a loja.
Tinha uma beleza mediana e um carisma que fazia a Gisele Bündchen ter o charme de uma canja sem sal. Seus movimentos eram naturalmente friamente calculados.
Rodrigo estava no segundo período de Comunicação e passara na livraria-café para comprar um livro de sociologia. Não ligou muito para a moça de início. Ele era muito rico, herdeiro de uma empresa de construção naval.
Tereza tocava o café com o charme de uma gueixa, e isso o encantou o adolescente, tão acostumado ao jeito tumultuado das garotas de sua geração.
Não cabe descrever como Rodrigo, neste mesmo dia, matou aula e passou a tarde a conversar com a moça. O que aconteceu foi aquele velho e conhecido jogo de sedução covarde entre uma mulher e um garoto.
Ficaram. Namoraram. Almoçavam com a família (a dele, claro) aos domingos. De início, Tereza causou desconfiança nos pais de Rodrigo, pois era latente que ela não havia nascido em berço de ouro. Por mais que tentasse esconder, havia pequenos detalhes em sua roupa e no seu jeito que denunciavam que a finesse havia sido conquistada (e só ela sabia o quanto isso lhe custava). Logo a desconfiança se apagou. A moça era muito culta e desenvolta, falava sobre qualquer assunto, conhecia Europa e Índia, seguia todas as regras de etiqueta. Isso tranqüilizou a família de Rodrigo.
Era sábado, começo de noite. Tereza esperava por Rodrigo no lugar de sempre. Ele dirigia seu carro com vidros fumé quando foi interceptado por dois moleques. Um deles estava armado. Levaram o carro e fizeram o menino sacar uma quantia muito alta. Os seqüestradores pretendiam negociar, como comerciantes que jogam pro alto para vender num preço razoável, mas o garoto, assustado como nunca estivera, pagou tudo sem questionar.
Tereza cansou de esperar e foi para casa. Rodrigo voltou andando em estado de choque para seu apartamento. Ligou para a namorada, que respondeu chateada e nem quis saber da história. Disse que não era mulher de levar bolo e nunca mais atendeu às ligações do rapaz.
O garoto enlouqueceu com o duplo golpe. Fora humilhado pelos assaltantes e perdera a namorada no mesmo dia. Nunca havia lidado com emoções tão fortes. Na manhã seguinte, decidido, foi à joalheria comprar um anel de brilhantes. Aprendera, num filme antigo que havia assistido na faculdade, que os diamantes são os melhores amigos das mulheres.
Mandou entregar no endereço de Tereza, um prédio na quadra da praia. Dalila, uma senhorinha simpática que morava sozinha, não entendeu nada quando o entregador chegou com as flores e a singela caixinha, mas ficou feliz pelo anel ter entrado direitinho no seu dedo.

Um comentário:

Mari disse...

como você mesmo disse, brilhante.

a ironia final é a sua cara, adorei.

:*